Machismo, misoginia e falta de oportunidades são alguns dos muitos impedimentos que dificultam o acesso, permanência e ascensão das mulheres no mercado de trabalho.
Por isso, a busca pela equidade de gênero em espaços majoritariamente masculinos é uma necessidade urgente para a mulher, e também uma responsabilidade social.
Desafios das mulheres no mercado de trabalho
Sabemos que muitas mulheres têm dificuldades para conseguir um emprego ou serem promovidas na área em que escolheram enquanto profissão. Entretanto, homens que ocupam o mesmo cargo e apresentam o mesmo desempenho deslancham em suas carreiras. Sem contar aquelas que tiveram dificuldades para retornar ao mercado de trabalho após a maternidade. De acordo com o IBGE as trabalhadoras ganham, em média, 20,5% menos que os homens no país¹.
Sendo assim, entender esse cenário de desigualdade em relação ao acesso da mulher a profissões com predominância masculina nos obriga a voltar um pouco atrás. Logo, a desigualdade começa bem antes de conseguir o primeiro emprego, ou seja, pode ser vista dentro das universidades e faculdades no País, em cursos nas áreas de tecnologia ainda com predominância masculina.
Diferenças já na graduação
De acordo com o Censo de Educação superior 2015 (do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais), a participação feminina em cursos de ciências exatas é de 41%. Quando falamos em cursos de engenharia o valor é ainda menor sendo 70,7% homens e 29,3% mulheres².
Nos anos de graduação, percebi incontáveis reações de surpresa e certa desconfiança ao ouvir uma mulher dizer o curso que fazia. Por vezes, eu mesma me espantei quando ouvi de algumas delas respostas como Sistema de Informação, Engenharia ou Ciência da Computação. Era comum ver salas de aulas com duas ou três meninas em uma turma de 40 alunos, a maioria formada por homens. Assim, o estranhamento não vinha pela disparidade de gênero, mas em saber que a presença feminina não atingia uma dezena nesses mesmos cursos.
O ano era 2011 e, embora recente, muitas coisas mudaram de lá pra cá. Mulheres ocupam cada vez mais cargos e espaços que, em outras décadas, eram destinados ou exclusivos aos homens. Ainda assim, são muitas as batalhas que enfrentamos para alcançar a equidade de gênero no trabalho. Chegar ao mercado de trabalho, por vezes, é um desafio.
No Brasil de hoje, apenas 15% das matrículas nos cursos de tecnologia são feitas por mulheres³. E no primeiro ano de faculdade, 8 de cada 10 mulheres desistem de cursar faculdades de tecnologia, segundo números da Pnad.
Porém, permanecer no curso ou ser promovida no trabalho pode ser ainda mais difícil.
Mas a mudança está a caminho e o futuro é feminino!
O ano é 2020 e a Stilingue traz um estudo considerando os dados de 2019 e já mostrando o que é dito nas redes no início deste ano. Sendo assim, o estudo traça um panorama sobre os desafios e avanços alcançados pelas mulheres no mercado de trabalho.
Dessa forma, de março de 2019 a fevereiro de 2020, foram coletadas 393.875 publicações relacionadas a “mulheres” e “mercado de trabalho”.
Logo, considerando o mesmo universo, somente em fevereiro de 2020, já somamos 103.046 publicações coletadas, totalizando 26% das publicações na amostra total:
As redes sociais, as mulheres no mercado de trabalho e as buscas de ambos os sexos
Assim, retornando à amostra total, é possível identificar o Instagram como a rede social em que os temas foram mais mencionados:
A coleta de publicações do Instagram é realizada por meio de cadastro de hashtags na Configuração de Pesquisa. Portanto, somente a hashtag #mulheresempreendedoras foi responsável pela coleta de 162 mil publicações na amostra total.
Sendo assim, entre as publicações coletadas em todos os canais, termos como mulheres, emprego e mercado de trabalho foram recorrentes em discussões nas redes.
Além disso, um tema que fala sobre elas é também dito por elas: as mulheres dominam nas redes as discussões sobre mercado de trabalho e mulheres, com 50% da coleta vinda de perfis do gênero feminino.
Representando 75% da força de trabalho no Brasil (4), os homens também discutem sobre a temática e somam 32% do público que fala sobre o assunto nas redes.
Interesses femininos e masculinos
Através do Duelo de Termos é possível identificar dados interessantes nos discursos publicados por homens e mulheres em relação à temática de acessibilidade. Dessa forma, no gráfico, os termos nas extremidades são exclusivos ao filtro aplicado, enquanto os termos ao centro são comuns às duas amostras.
Sendo assim, no lado masculino, termos exclusivos como CLT, formação, ações e investidores chamam a atenção em contraste com os termos oportunidade de trabalho, mulher trans e equidade de gênero no gênero feminino. Tal fato mostra um possível maior engajamento ou relação da mulher com questões ou temáticas sociais em relação ao universo masculino na amostra.
Também é interessante notar o volume de um termo que é comum entre ambas as amostras: homem.
Embora seja comum a comparação entre homens e mulheres no contexto do mercado de trabalho, a palavra homens é naturalmente associada ao mercado de trabalho mais vezes do que o termo mulheres.
Somos força sem Trabalho
Como sabemos, o desemprego é um dos temores que perseguem o brasileiro em 2020. Logo, com um índice de 11,6 milhões de desempregados (5), homens e mulheres manifestam preocupação com a possibilidade de perder o emprego.
Porém, há também aqueles que temem não conseguir chegar ao mercado de trabalho. Nesse cenário, a mulher é ainda a que mais sofre.
Além disso, um agravante que contribui para o desemprego entre as mulheres é a dificuldade para retornar ao mercado após a licença maternidade. Segundo a pesquisa “Licença-maternidade e suas consequências no mercado de trabalho do Brasil”, realizada pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), metade das mulheres que tiveram filhos são desligadas do trabalho ao retornarem (6).
No gráfico, destacam-se os termos “desemprego” e “licença maternidade”, evidenciando assim a relação entre eles. Nessa amostra, ao aplicarmos o zoom no termo “desemprego” , além de publicações que citam as dificuldades do retorno da mulher ao mercado após a maternidade, outro assunto que faz correlação com o tema ganha notoriedade: a expansão do período da licença maternidade.
Sendo assim, em 2019, a proposta defendida pela Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves em ampliar o período de licença maternidade foi recebida com grande resistência no Congresso e segue em fases de tramitação.
Entretanto, os dados apontam para um movimento de mudança na realidade das mulheres no mercado de trabalho e tecnologia. Existe uma disparidade entre tipos de emprego executados por homens e por mulheres, que tende a diminuir com o passar do tempo.
Estamos na torcida!
Confira aqui a parte II do nosso estudo 😉
Sobre a análise:
Objetivo: Identificar os pontos de destaque sobre mulheres e mercado de trabalho com destaque na área de tecnologia.
Metodologia: o estudo foca no período de 01/01/2019 a 29/02/2020, com um total de 393.875 publicações coletadas para a amostra. As redes sociais analisadas foram Facebook, Twitter e Instagram, além de blogs, sites de notícias e comentários. As publicações são públicas e coletadas via API de cada canal. Para coleta e análise, foi utilizado o War-Room, tecnologia de monitoramento STILINGUE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL.