Esta é a segunda parte do Estudo: Mulheres no Mercado de Trabalho, o que as redes têm a dizer? Se você ainda não leu a primeira parte, clique aqui para acessar.

Quando falamos em mulher e mercado de trabalho, você pensa em quais profissões?

É provável que, de imediato você associe a imagem da mulher a determinadas profissões, como professora, atendente de loja, enfermeira…

Sim, também amamos essas profissões e arrasamos em todas. Mas outros cenários, como o da tecnologia, estão sendo cada vez mais ocupados por mulheres. 

Por isso, continuamos com o nosso estudo sobre mulheres no mercado de trabalho.

Mulher e tecnologia combinam? Muito!

Inteligência Artificial é substantivo feminino.

Embora uma boa analogia, ainda há muito a ser feito. Nesse mercado de trabalho, a predominância ainda é masculina, sendo eles 76%¹ dos profissionais que atuam nessa área. Porém, mesmo com a disparidade em equidade de gênero, temos o que comemorar, pois estamos ocupando cada vez mais esses espaços: analistas de sistemas, engenheiras de software, da computação, técnicas em informática, além de outras profissões da área. Não é coincidência que termos como “futuro” , “inovação” e “empresas” se relacionem e destaquem na amostra.

Imagem 13: Gráfico Termos Correlacionados do War- Room da STILINGUE
Imagem 13: Gráfico Termos Correlacionados do War- Room da STILINGUE

Sendo assim, esses termos fazem parte de um universo de possibilidades que depende diretamente de oportunidade.

Capazes, já mostramos que somos!

Veja que, ao aplicar o zoom no termo futuro, destaca-se na amostra, publicações que citam eventos com foco em Inovação e  tecnologia. Portanto, as publicações, além de citar inovações tecnológicas, reafirmam a necessidade e importância de promover a participação feminina no mundo de investimentos, gestão e empreendedorismo.

Imagem 14: Grafo de Termos Relacionados do War-Room STILINGUE
Imagem 14: Grafo de Termos Relacionados do War-Room STILINGUE

Além disso, também nesta amostra, aparecem publicações que “chamam” atenção para os 5 principais eventos financeiros para se acompanhar em 2020:  Fórum Económico Mundial 21 a 24 de janeiro, Blockchain Economy 2020 20 a 21 de fevereiro, TOP CEO 8 de abril, Expo 2020 20 de outubro, Emirados Árabes Unidos e G20 Saudi 21 e 22 de novembro, Arábia Saudita. 

Tais eventos têm como foco os novos temas e tendências que vão moldar o futuro, como tecnologias financeiras do futuro , Inteligência Artificial e Tecnologias Descentralizadas. Com destaque para o evento G20, que  vai trabalhar sob o tema “Realizando oportunidades do século XXI para todos” e irá focar-se em três grandes objetivos: Capacitar e criar condições para que todas as pessoas – especialmente mulheres e jovens – possam viver, trabalhar e prosperar.

Muito a conquistar!

Temos o que comemorar, mas queremos e precisamos de mais. Daí a importância do estudo das mulheres no mercado de trabalho.

Embora a mulher venha alcançando espaço e notoriedade no Mercado de Tecnologia e Inteligência Artificial (I.A), ainda não podemos falar em igualdade, principalmente quando falamos da mulher negra.

A pesquisa trazida pela Stilingue faz um respaldo a esse cenário, de um total de 393.875 publicações coletadas, apenas 4.310 publicações citam os termos mulher negra no contexto monitorado.

Imagem 15: Visão Geral do War-Room STILINGUE
Imagem 15: Visão Geral do War-Room STILINGUE

Dessa maneira, para falarmos na dificuldade que a mulher negra encontra para entrar e se estabelecer no mercado de trabalho, é preciso antes trazer um cenário amplo, que abrange a população negra. Ou seja, herança de um período escravocrata. Logo, o racismo também define as estruturas no mercado, tal qual influencia no desafio que é a  inclusão de mulheres e homens negros à profissões qualificadas.

Por isso, o racismo estrutural e a inclusão no mercado de trabalho são considerados temas urgentes para a população negra.  A colocação profissional é então, um dos assuntos prioritários para a vida das pessoas negras, segundo a pesquisa Consciência entre Urgências: Pautas e Potências da População Negra no Brasil, divulgada no ano passado pelo Google Brasil.

A falta de representatividade negra de homens e mulheres no mercado de trabalho

Como sabemos, a ausência de representatividade negra no mercado de trabalho ocasiona ambientes homogêneos, com pouca ou nenhuma diversidade. Portanto, acaba contribuindo com a redução de potencialidade, qualidades e oportunidades diante um mercado cada vez mais exigente.

Sendo assim, a colocação profissional como tema prioritário e urgente para vida das pessoas negras é respaldado pela estatística: em 2019,  a população preta e parda do país ficaram entre a maioria dos trabalhadores desocupados (64,2%) ou subutilizados (66,1%), segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. 

A desigualdade ainda maior entre mulheres negras

Após essa análise mais ampla da desigualdade sofrida pela população negra diante o racismo estrutural, voltamos para um outro agravante que é a desigualdade entre gênero e raça. O estudo das mulheres no mercado de trabalho revela que a mulher preta, além de enfrentar o racismo estrutural, enfrenta também o machismo. Ela sofre antes por ser negra, depois por ser mulher. Determinante na sociedade brasileira, o racismo torna a sua busca por inserção no mercado ainda mais difícil.

Para se ter uma ideia, a taxa de desemprego entre elas é de 16%  as mulheres negras, o dobro da verificada entre homens brancos, 8,3%. 

Embora constituam o maior grupo da população. Somam quase 60 milhões, isto é, 28% dos brasileiros, segundo dados do PNAD.  Na cena executiva das maiores empresas do Brasil, a presença de mulheres negras atinge apenas 0,4 %, quando consideradas mulheres de todas as cores, esse percentual  sobe para 13%  (Instituto Ethos de pesquisa ).

Por isso, ao fazer um recorte entre mulheres brancas e negras, a situação é também desigual. Isso devido a questões como o próprio racismo estrutural que acaba influenciando na falta de oportunidade para que mulheres negras ocupem esses espaços. Que também são as mais atingidas pelo desemprego ( 16 %)  em comparação com as mulheres brancas ( 11%).

Para a mulher negra chegar a um cargo de liderança é ainda mais difícil!

Em estudo realizado pela Talenses e Esper que traz um comparativo histórico das mulheres nos cargos de liderança das organizações no Brasil, revelou que das 415 empresas com cargo de presidente, 95% são homens ou mulheres brancas.

Sendo assim, em grandes empresas do país, as mulheres negras estão concentradas nos cargos mais baixos dentro das organizações. Ocupam 10,3%² dos cargos funcionais, 8,2% dos cargos de supervisão, 1,6% das posições na gerência e 0,4% no quadro executivo³. Discutir gênero e raça e relação com a desigualdade no mercado de trabalho  é fundamental para combater o racismo e  oportunizar o acesso da mulher negra a esses espaços.

Além do mais, quando especificamos o mercado de tecnologia , a presença da mulher negra é ainda mais restrita. De acordo com a pesquisa #QuemCodaBR, desenvolvida pelo Pretalab, 32,7% das empresas participantes não possuem nenhuma pessoa negra nas equipes de trabalho em tecnologia. E, somente 31.5% dos respondentes que trabalham com tecnologia são mulheres (4).

Novamente, o racismo estrutural ,que impede o acesso de mulheres negras à universidade e a falta de políticas de inclusão e de estímulos, é também decisivo no acesso de mulheres negras a áreas tecnológicas.

Dessa forma, fazendo um respaldo a dificuldade que a mulher negra enfrenta nesse cenário, é possível visualizar no gráfico a correlação dos termos mulher negra e tecnologia com racismo estrutural.

Imagem 16: Gráfico Termos Correlacionados do War- Room da STILINGUE
Imagem 16: Gráfico Termos Correlacionados do War- Room da STILINGUE

Precisamos combater o racismo estrutural

Perceba que, ao navegarmos pelo termo racismo estrutural, é possível visualizar a correlação entre o termo e demais termos como: tecnologia, empresas, mercado de trabalho:  

Imagem 17: Gráfico de Termos Correlacionados do War-Room da STILINGUE
Imagem 17: Gráfico de Termos Correlacionados do War-Room da STILINGUE

Nessa amostra, destacaram-se publicações que citam ações de combate ao racismo e de reflexão sobre a influência do racismo na desigualdade no mercado de trabalho para negros em relação aos brancos. Destaque decorrente da temática estar em pauta durante a semana da Consciência Negra em 2019.

Assim, ao aplicarmos o zoom em tecnologia, somos direcionados para publicações que citam ações de fomento ao empreendedorismo e capacitação de mulheres negras no mercado. Em destaque nas publicações: pretalab, um projeto do  Olabimakerspace de inclusão de mulheres negras na tecnologia.

Portanto, mudar esse cenário desigual  é um desafio e responsabilidade que algumas empresas vêm abraçando. Entidades como Mergo, Fiap, Senac, promovem e estruturam projetos que oportunizam a entrada e capacitação de mulheres negras no mercado do trabalho. Mudança que só é possível por meio de oportunidade.

Oportunizar para somar!

Assim como outras marcas, o Bradesco, que já possui programas destinados à inserção das mulheres, se destacou na pesquisa.

Imagem 18: Nuvem de palavras de Termos Correlacionados do War-Room da STILINGUE
Imagem 18: Nuvem de palavras de Termos Correlacionados do War-Room da STILINGUE

Enquanto isso, a Mary Kay apresenta programas para estimular o empreendedorismo entre o gênero.

Imagem 19: Nuvem de palavras de Termos Correlacionados do War-Room da STILINGUE
Imagem 19: Nuvem de palavras de Termos Correlacionados do War-Room da STILINGUE

Vemos que, apesar das dificuldades, esse tipo de programa mostra uma visão atual de mercado e contribui para a mudança desse cenário. Entender  a necessidade de promover a inserção das mulheres no mercado tecnológico é oportunidade para as mulheres alcançarem equidade de gênero e também para as empresas que ganham com a diversidade no quadro de funcionários.

Afinal, oportunidade também é substantivo feminino, não é mesmo?

Sobre a análise

Objetivo: Identificar os pontos de destaque sobre mulheres e mercado de trabalho com destaque na área de tecnologia. 

Metodologia: o estudo sobre as mulheres no mercado de trabalho foca no período de 01/01/2019 a 29/02/2020, com um total de 393.875 publicações coletadas para a amostra. As redes sociais analisadas foram Facebook, Twitter e Instagram, além de blogs, sites de notícias e comentários. As publicações são públicas e coletadas via API de cada canal. Para coleta e análise, foi utilizado o War-Room, tecnologia de monitoramento STILINGUE INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL.