No mês das mães nada mais oportuno que uma análise sobre elas. Há quem as chame de guerreiras, há quem as considere sobreviventes. Tem quem diga que ser mãe é abrir mão do seu mundo para dar o mundo a um outro alguém, enquanto outras consideram que um filho vem para somar, e jamais anular um sonho. Há quem considere que mãe é sinônimo de amor e quem afirme que é um bocado de dor. O que todas elas têm em comum é o fato de serem mulheres e de terem um propósito que pode ou não estar relacionado à maternidade e à construção de uma família.
Um propósito comum entre mulheres, que muitas vezes é invisibilizado pelo “ser mãe”, é a construção de uma carreira. Há mulheres que almejam se realizar exercendo atividades profissionais e encontram desafios na conciliação de tarefas relacionadas ao maternar e ao trabalho.
Nessa análise abordaremos as narrativas que perpassam esse tema. Entenderemos a relevância de termos como, desempregada,culpa,mãe solteira, dentro do contexto carreira. No estudo também será abordado o que os usuários disseram sobre as mães e pandemia, as adaptações em casa e no trabalho. Vamos aos dados?
Dados Gerais
Foram analisadas 82.218 publicações entre os dias 10.04.2020 e 10.05.2020 considerando termos relacionados à carreira de mães e pais. A predominância de publicações é no grupo de mães, representando 75% das menções, enquanto o grupo dos pais representa 25% das menções da amostra.
Dentre essas publicações há 72.459 usuários únicos falando sobre o tema. Na análise O canal em que os usuários mais se expressam é o Twitter, representando 48% do total de menções, seguido de comentários em Facebook (37%). O gênero que mais se expressa sobre o tema é o feminino (61%), seguido do gênero masculino (32%) e por último o gênero Organização, representando 7% dos perfis que conversam nas redes:
Ao visualizar a linha do tempo do período da amostra relacionada ao volume de publicações há dois picos. Um em 23 de abril (3.812) publicações e o outro em 10 de maio (3.916) publicações.
Lupa nos auges das publicações
10 de maio
O último domingo, 10 de maio, foi contemplado pelo dia das mães. Diferente da amostra total, ao aprofundarmos na análise do dia é possível perceber uma aceleração na quantidade de publicações no Instagram (19%), que ocupa a terceira posição dentre os canais. O que justifica o destaque da rede nesse zoom é que os filhos costumam demonstrar seu amor pelas mães nessa data comemorativa através de fotografias. E como o Instagram é considerado a rede social das fotos, ganhou notoriedade ao darmos um zoom nesse dia em comparação à colocação na total de publicações da amostra. Os usuários também deram os parabéns e compartilharam os momentos de felicidade que viveram/vivem ao lado de suas mães na rede.
Além desses, assuntos como mãe de pets, solidariedade às mães que estão na linha de frente ao combate de covid-19, mensagens de incentivo à luta para mães solos foram comentados pelas usuários no domingo.
23 de abril
Ao analisar o dia 23 de abril é possível perceber um volume de publicações alto relacionado ao Projeto de Lei sobre o auxílio emergencial. As usuárias e os usuários colocaram o tema em pauta à medida que tinham os seus cadastros aceitos ou não. Os termos mãe (21%) seguido do termo trabalho (19%) e mãe solteira (7%) foram os mais relevantes dentro das publicações nesse dia.
Nas publicações há usuárias afirmando que são mães solteiras e tiveram o pedido do auxílio emergencial negado. Outras usuárias afirmaram que são mães e precisam de um trabalho. No dia há também termos relacionados à mães que trabalham na área da saúde. São desabafos de filhos dizendo sobre o distanciamento que estão mantendo de suas mães.
Covid 19 e seu impacto na carreira das mulheres
Falando em auxílio emergencial, vamos entender os desafios profissionais das mães durante a pandemia através da análise de termos relacionados a esse contexto. Os cinco termos de mais relevância são: coronavírus, carreira, sobrecarga, filhos e desemprego.
Ao examinar as publicações que compõem a amostra acima entendemos que 61% das pessoas que falam sobre o tema são mulheres e as abordagens contemplam palavras como equilíbrio, trabalho e casa. As narrativas giram em torno de mulheres que estão tendo jornadas triplas e que conseguem ajustar todos os afazeres em seu dia. Termos como home office e emprego também foram recorrentes nessa amostra.
Carreira
Dentre os assuntos que os usuários abordam na internet sobre Mães o tema que tem maior volume de menções é carreira, com 39.448 publicações coletadas. Abaixo é possível visualizar a distribuição dos principais termos que estão dentro da temática carreira.
Ao analisar os termos que estão em aceleração entre as publicações (função, impulsionamento manual, entidade e experiências de parentalidade) nota-se que essa aceleração foi gerada por uma notícia reproduzida em portais e redes sociais, no dia 10 de maio, sobre uma campanha feita pela entidade Somos Mães, uma Organização Não Governamental (ONG), para que mães e pais acrescentam a maternidade/paternidade como experiência em seus currículos e até em perfis no LinkedIn. Na campanha é indicado que a publicações tenham a hashtag #sermae ou #serpai.
Sentimento de Culpa: Mães x Pais
Vamos criar um duelo entre termos? Confrontando conversas de mães e pais relacionadas ao sentimento de culpa no quesito trabalho percebe-se a presença de termos comuns como emprego, momento, dinheiro, mundo e horas.
O termo culpa ganha destaque na análise. Ele é mais frequente no grupo Mães, além de ser o termo mais frequente do duelo, sendo exibido 213 vezes nas publicações da amostra. Ao analisar o teor de publicações que contém esse termo, há exemplos de relatos de mães que sentem culpa por trabalhar, por exemplo, ou por precisar deixar as crianças com outra cuidadora. A palavra é muito utilizada nas narrativas das mulheres.
No caso do termo mae solteira, também destacado no duelo, ele é exclusivo do grupo mãe se opondo ao termo “pai de família” que é exclusivo do grupo Pais. Esse dado é bem representativo ao considerar a realidade na qual vivemos e como construímos a imagem de uma mulher e um homem e de uma mãe e de um pai. Segundo o censo mais recente feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) o número de mães solo no Brasil saltou de 10,5 milhões para 11,6 milhões no período de 2005 a 2015
Desemprego: Mães x Pais
Ao duelar o que é dito sobre desemprego e pais e o que é falado sobre desemprego e mães nota-se que o volume de termos pende mais para o lado esquerdo, o das mães. Alguns termos que ganharam destaque nas menções referente à mães foram: auxílio emergencial, mãe solo, dinheiro, direito e mãe solteira.
Os termos que estão no centro, isto é, são comuns aos dois grupos que estão duelando são principalmente: filhos, empresários, trabalhador, sustento. Ao aprofundarmos a análise sobre o que os usuários estão, há publicações que citam pais e mães que não estão podendo trabalhar e ganhar seu sustento, devido à pandemia. Há mães dizendo que perderam seu sustento porque foram demitidas e precisam alimentar seus filhos. E os principais termos exclusivos ao grupo pais foram pai de família e filhos.
Enquanto mãe solo teve uma frequência de 2162 menções, pai solo teve uma frequência de 35 menções nessa amostra. Também ao acessar a frequência do termo pai de família temos 1254 se opondo à 523 vezes em que mãe de família foi dito. Já a frequência do termo mãe solteira é 3.756, pelo menos 34 vezes a mais que o termo pai solteiro foi dito, que é 110 vezes.
Sentimentos relacionados à maternidade e carreira
Ser mãe envolve um turbilhão de sentimentos que podem acontecer simultaneamente em várias situações. Por isso, considerei mapear qual o é o sentimento envolvido quando a usuária aborda o tema na internet. Abaixo alguns sentimentos que permeiam a maternidade conciliada a uma carreira:
Conclusão
A dualidade que acompanha a maternidade é inegável. É prazeroso ao mesmo tempo que desgasta, é a alegria e a tristeza de um instante para o outro. Depois de analisar os dados sobre abordagens, conversas e desabafos relacionados ao tema, entende-se que ainda há um desafio em ser mãe e profissional. Ainda existem barreiras a serem derrubadas para que mães não se sintam sobrecarregadas ou culpadas por exercerem suas profissões.
À vista disso, visualizamos na análise campanhas para que mães incluam em seus currículos a maternidade como uma nova aptidão. Também, ao contrastar pais e mães, vimos nos dados como alguns sentimentos estão muito mais presentes na vida de mães, mesmo que os pais devessem ter a mesma responsabilidade.
O caminho é longo, mas a importância de escutar (ou ler) mulheres falando cada vez mais sobre o tema é muito positivo e fundamental para que a sociedade evolua no que diz respeito à apoio e compreensão. A internet pode ser uma ferramenta para que, cada vez mais, as pessoas se expressem. Por outro lado há quem possa encontrar boas oportunidades em ouví-las e entender as suas dores.