Com base nos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPS) da ONU durante a Semana da Mulher de 2018 e 2019.
São Paulo, março de 2019 – Estamos em 2019 e as pautas femininas estão em ampla discussão.“Empoderamento feminino” é uma expressão de ordem. Apesar da maioria, a mão de obra feminina ainda sofre com discrepâncias salariais. A partir dessa diferença entre gêneros no mercado de trabalho, a ONU Mulheres e o Pacto Global das Nações Unidas criaram os Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPS), que consistem em apresentar diretrizes que orientam sobre como delegar poder a elas na comunidade como um todo.
A equipe de ‘empoderadas’ da STILINGUE realizou uma análise minuciosa, cuja premissa foi o Dia Internacional das Mulheres, baseada nos WEPS – tendo liderança, respeito, saúde, educação,empreendedorismo, políticas de empoderamento, questões sociais, progresso no mercado, feminicídio e seus universos como palavras-chave. Os conteúdos foram coletados durante a Semana da Mulher nos anos de 2018 e 2019 na tentativa de descobrir se estamos ou não caminhando para uma mudança da posição e do reconhecimento da mulher no mercado de trabalho.
As palavras-chave citadas também foram analisadas na relação com empoderamento, assédio,tecnologia e inovação, ações publicitárias, ONGs, manifestações, dinâmicas, vítimas,representatividade na mídia, capacitação, atuação, machismo, desigualdade salarial, serviços domésticos e estupro.
A tecnologia a favor da mulher
-Em 2018, entre 4 e 10 de março: 22.374 publicações com referência ao papel da mulher no mercado de trabalho. Twitter, com 25,1% e portais, com 20,5%, foram as redes que mais apareceram na pesquisa;
– Já em 2019, no período de 3 a 9 de março, foram coletadas 39.653 publicações, 77% a mais do que o ano anterior. A maioria das menções vieram de portais, 38,3%, seguida 38,3%, seguida de Facebook, com 17,8% e Twitter com 13,2%.
Distribuição de gênero e localização
Primeiramente em relação à “Distribuição de Gênero” a sequência da divisão foi composta por: organizações,homens e mulheres, com os seguintes insights:
– Em 2018, as organizações ficaram em 1º lugar, com 47% das publicações, os homens tiveram 27%e as mulheres, 26%, considerando apenas publicações classificadas por gênero;
– Mesmo com o aumento das publicações por mulheres em 2019, foi um aumento pouco significativo: as organizações permanecem em 1º lugar, com 43,6%, com as mulheres tomando o 2º lugar com 29% (aumento de 3%) e, por último, os homens, com 27,4%;
Partindo do aspecto da localização, ou seja, onde se encontram os publicadores que estavam com o geolocalizador ativado, ocorre uma centralização em geral:
– Em 2018, 53,5% se originaram dos Estados do Sudeste: SP (27,43%), RJ (16,17%) e MG (9,90%).A Bahia ocupa a quarta posição, com 7,40%. Os demais Estados das regiões Nordeste, Sul e Centro Oeste somam 44,48%.
– No ano de 2019, SP e RJ se mantém nas primeiras posições do gráfico, com 28,9% e 15,95% das publicações, respectivamente. Pernambuco vai do 5º para o 3º lugar, com 9,97% das publicações de assuntos relacionados ao empoderamento feminino. Já MG, com apenas 3,99% das publicações, caiu para o 7º lugar.
– Embora não tão acentuada, a descentralização do Sudeste no gráfico, pode ser notada na comparação das datas. Espera-se que a tendência seja incluir, cada vez mais, as mulheres de todas as regiões do País, dentro de pesquisas sob essa ótica. Assim, o discurso disseminado nas redes pode se tornar cada vez mais plural.
Hashtags na Semana da Mulher
O gráfico de hashtags coletadas na pesquisa, em 2018, é possível medir o volume. A tag #diadamulher ocupa a primeira posição com 21,83%. As hashtags #diainternacionaldamulher,#empreendedorismo, #motivacao, #8m, #mulher, #mulheres, #8demarco e #feminicidio aparecem no ranking, nessa ordem.
– Em 2019, nota-se que as hashtags continuam aparecendo com mais repercussão nas redes sociais. – A mais utilizada pelos usuários foi #diainternacionaldamulher com 20,54% das publicações, assim como em 2018. Em seguida, outro insight perceptível foi como a hashtag #8m ganhou espaço na mídia, passando da última posição em 2018 para 2º em 2019, com 15,66% das menções. Sendo seguida por#diadamulher, #mulher, #feminicidio, #queremosjustiça e #queremosresposta, nessa ordem.
A evolução dos termos do universo ONU Mulheres
– Nos dois anos analisados, o termo ‘liderança’ aparece em 1º lugar em menções, seguido por ‘feminicídio’;
– Em 2018, termos como ‘saúde’ e ‘empreendedorismo’ vieram na sequência do ranking de menções;enquanto que em 2019 os termos são ‘respeito’ e ‘saúde’;
– As menções ao termo ‘liderança’ tiveram um aumento quando relacionadas à ‘tecnologia’,‘atuação’, ‘ações publicitárias’ e ‘empoderamento’, se comparadas à 2018;
– Termos relacionados a ‘estupro’, ‘vítima’ e ‘assédio’ tiveram um aumento de mais de 100% na quantidade de publicações. Já o termo ‘empoderamento’ aumentou 45% e a representatividade aumentou mais de 200%
.- Como percebido nos gráficos, a relação de ‘tecnologia’ com ‘liderança’ é grande, registrando um aumento de 55,1% nas publicações sobre o tema;- Em relação à ‘feminicídio’, houve aumento de publicações que citam os termos ‘assédio’, ‘estupro’e ‘vítima’, este último com aumento de 56% de 2018 para 2019;- Também houve um aumento considerável em relação às menções de ações publicitárias, de 187,2%em relação ao ano de 2018.
O antagonismo do Feminicídio no cenário de direitos e conquistas da mulher
É de se esperar que na Semana da Mulher, em que se comemora o Dia Internacional da Mulher,predominem nas redes sociais publicações sobre essa celebração. Mas, com o passar dos anos e o aumento da consciência do papel das mulheres e a situação na sociedade, o cenário mudou:
– Na semana entre 4 de 10 de março de 2018, das 22.374 publicações, termos como ‘liderança’,‘empreendedorismo’, ‘políticas de empoderamento’, ‘contexto social’ e ‘progresso no mercado’ se destacaram;
– No gráfico de Termos Correlacionado, termos como ‘dia da mulher’, ‘liderança’ e ‘empreendedorismo’ se destacam em 8,6 % das publicações coletadas;- Tais termos diretamente relacionados ao primeiro dos princípios propostos pela ONU, mostram que na Semana da Mulher de 2018 a necessidade do aumento de lideranças femininas e a celebração do crescimento estavam em pauta;
– O termo ‘homicídio’ também está destacado, devido a ocorrência do uso nas redes, presente nas discussões quanto a crimes contra a vida de mulheres e a importância de compreender a diferença entre homicídio e feminicídio- assassinato de mulheres, cometidos em razão de gênero. Na amostra, ‘homicídio’ reincide em 2% das publicações, sendo citado 449 vezes;
– Na mesma semana em 2019, quando eventos e manifestações – resultantes da Semana da Mulher -, espalharam-se pelo país, discussões como violência contra a mulher e feminicídio se destacaram não apenas nas ruas, mas também nas redes;- Os temas predominaram no destaque, como ‘feminicídio’, ‘reflexão’, ‘violência’, ‘presidente’ e‘gênero’;
Por fim, entre 3 e 9 de março de 2019, das 39.653 publicações, o termo ‘feminicídio’ tinha destaque em 19,2 % das publicações. Na amostra, ele é citado 7.619 vezes, seguido do termo ‘Presidente’, citado em 5,5% das publicações. É importante destacar o termo ‘justiça’, que aparece com 3%, em 1.199 menções.
Considerações Finais
As redes sociais foram,principalmente, um excelente amplificador de pautas importantes para luta feminina frente ao machismo estrutural da sociedade. Destaque para a hashtag #8m, que se consolidou como uma importante forma de evidenciar as publicações brasileiras sobre o Dia Internacional da Mulher;
– Apesar do aumento de menções positivas relacionadas a temas e grupos de palavras importantes para o empoderamento feminino, bem como para a promoção da equidade de gênero de 2018 para 2019, as menções sobre feminicídio também aumentaram de forma expressiva.- Aumento de menções sobre liderança, respeito, empoderamento. Porém, também pode ser observado um aumento considerável de menções sobre feminicídio;
– Foram observados avanços importantes validados pela incidência de termos positivos relacionados ao empoderamento feminino, como as lideranças das mulheres, a inserção e o reconhecimento no mercado de trabalho, dentre outros que ressaltam as lutas diárias das mulheres do nosso país.- Embora os avanços sejam visíveis, e que cada vez mais as mulheres vêm ocupando os espaços e os cargos predominantemente masculinos, as mulheres ainda são vítimas da violência e do preconceito que impedem a equidade de gênero. Há muito a se conquistar em diversos ambientes, inclusive dentro do mercado de trabalho.
– Ressignificação da data antes conhecida unicamente enquanto comemorativa, ganha nova narrativa de reflexão quanto à luta em prol dos direitos das mulheres