A modernidade trouxe inúmeros benefícios à humanidade, principalmente quando o assunto é alimentação. Deixamos de comer o que estava disponível para comer o que podíamos ou conseguíamos cultivar. Os avanços da tecnologia facilitaram o consumo e permitiram que nós tivéssemos muito mais alimentos à disposição. Ao mesmo tempo, por estarmos mais expostos a diferentes alimentos, surgiram também as restrições alimentares.
Estar restrito a comer algo significa que determinado alimento não pode fazer parte de sua dieta, ou seja, é preciso estar mais atento ao que se está ingerindo. Esta limitação na alimentação pode ser causada por alergias, como ao leite e ao glúten, a doenças, como diabetes e hipertensão e até mesmo escolhas de vida, como o vegetarianismo e o veganismo. É importante saber como nosso corpo responde aos alimentos para poder consumi-los da melhor maneira possível, equilibrando uma alimentação plena, saudável e saborosa.
Ao mesmo tempo em que surgem estas restrições alimentares, surge um novo nicho de mercado para quem participa do ramo alimentício: produzir produtos que respeitem as limitações enfrentadas por uma parte da população. Segundo o site Delivery Blog, o Brasil está em 4º lugar no ranking de consumo de alimentos saudáveis, e quem não se adaptar a essas mudanças, pode perder espaço e a oportunidade de aumentar seus lucros.
Neste sentido, este estudo utilizando a STILINGUE busca compreender como as restrições alimentares aparecem nas redes sociais e como as marcas se relacionam com o assunto.
Dados gerais sobre Restrições Alimentares
Boa parte do que é falado sobre restrição alimentar está no Twitter, com 62% das publicações coletadas. Seguindo por Portais, com 16% e comentários no Facebook com 8,5%. Quem mais publica sobre o assunto são as mulheres, com 58% das publicações, seguido dos homens, com 39%.
Além disso, quem mais fala sobre o tema são nutricionistas, como Patrícia Leite, que aparece em primeiro lugar em nosso ranking, seguida da SVB – Sociedade Vegetariana e Pensando ao Contrário, que é um canal de receitas veganas.
O que dizem sobre restrição alimentar?
Analisamos mais de 724 mil publicações, no intervalo de tempo de 1 de fevereiro a 6 de agosto de 2021. A maioria das publicações refere-se a receitas e dicas de alimentação evitando alguns produtos, como lactose, glúten, açúcar e carne. Vamos conferir abaixo os momentos com mais postagens.
O primeiro pico, identificado em 5 de fevereiro, refere-se a publicações onde o assunto predominante são receitas veganas e vegetarianas. Além disso, apareceu aqui uma importante notícia: uma das consequências do Covid-19 é a diabetes, ou seja, restrição ao açúcar, o que causou uma grande repercussão sobre os cuidados com a saúde.
O segundo pico, dia 27 de março, contou com a presença de muitas publicações envolvendo receitas e dicas para pessoas que possuem restrições ao consumo de açúcar, contando com posts de médicos e nutricionistas. Entretanto, a predominância de receitas ainda é voltada para os usuários que restringem a carne de seus hábitos alimentares.
O terceiro pico, dia 26 de maio, reuniu mais de 6 mil publicações e trouxe postagens referentes a fala de pessoas que se intitulam veganas problematizando que o consumo de carne no Brasil caiu devido aos valores do produto e a crise econômica vigente e não a uma conscientização da população sobre o que é o veganismo. Analisando as postagens, se fala muito sobre o preço da carne, sobre o aumento da desigualdade e da fome no Brasil.
O quarto pico, em 30 de julho, traz muitas publicações relacionadas a receitas para veganos e vegetarianos, seguidas de dicas de alimentação para pessoas que não consomem lactose e derivados. Neste dia também são apresentadas muitas propagandas de marcas de produtos veganos para beleza como a linha da Skala, o Minimalist Sunset da Baims Natural Makeup, os esmaltes da Maria Pomposa e da Anitta Cosméticos. Entre essas marcas também apareceu a Evonik Brasil, com seus protetores solares biodegradáveis. Isso demonstra a nova onda de consumo, uma onda sustentável em que as empresas demonstram preocupação em investir em produtos cruelty free.
O último aumento de volumetria – que ocorreu em 02 de agosto – traz, além de muitas receitas e dicas de nutricionistas, publicações sobre o Agosto Dourado, momento de incentivo à amamentação, que segundo as postagens, previne alergias, obesidade e até mesmo diabetes.
Quando falam sobre restrições alimentares, falam também sobre o que?
Quando fazemos uma busca relacionando os termos nesta pesquisa, notamos que a restrição alimentar ao açúcar aparece mais em alta, com mais de 314 mil publicações coletadas, bastante relacionada à diabetes e ao Covid-19. Indo mais a fundo nas análises, notamos que as publicações mais quentes são aquelas que trazem receitas sem açúcar e dicas de nutrientes que ajudam no controle glicêmico. Outro assunto levantado atrelado a restrição alimentar é a promoção do aleitamento materno, como prevenção a doenças que podem exigir a retirada de alguns alimentos no futuro.
Já ao analisarmos a relação entre sem açúcar e Covid-19, identificamos notícias com chamadas para a vacinação em diversas cidades de pessoas cuja comorbidade é a diabetes (grupo prioritário para vacinação).
A restrição ao leite, quando relacionada com a lactose, trouxe inúmeras receitas que não fazem uso do leite em sua composição, mas também trouxe marcas que produzem alimentos sem leite, como a Castanharia, Micos Rosquinhas e Catupiry.
A relação entre celíacos (pessoas que não podem consumir glúten) e sem glúten também retornaram publicações que falam sobre receitas, especialmente receitas de bolo para este público, apontando alguns produtos muito utilizados, como a farinha sem glúten.
O que veganos e vegetarianos têm em comum? E o que não tem?
Encontramos mais de 380 mil publicações sobre a restrição à carne. Entretanto sabemos que essa restrição se divide em dois grandes grupos: os veganos e os vegetarianos. Por entendermos que existem diferenças bastante relevantes entre estas duas comunidades, duelamos Veganos e Vegetarianos para identificar as semelhanças e dissonâncias entre esses públicos.
Analisando este gráfico notamos que as diferenças cotidianas entre ser vegano ou vegetariano se expressam também nas redes sociais. Enquanto os veganos falam sobre alimentação, meio ambiente, sustentabilidade e animais, as publicações do lado vegetariano falam muito mais sobre o processo de se tornar vegetariano e receitas vegetarianas.
Analisando o gráfico agora com foco nos termos exclusivos aos veganos, notamos que termos marca, shampoo vegano, produto vegano, cruelty free, linha e produto aparecem e trazem publicações referentes a marcas como Natura, Inoar, Boticário e Salon Line, que estão no mercado consumidor com a proposta de não terem em suas composições a origem animal e/ou não terem sido testadas em animais. Outros termos como teste em animais, libertação animal, meio ambiente e sustentável, afirmam o propósito do movimento vegano, que é envolver não apenas a alimentação, mas sim outras esferas de estilo de vida e consumo. As publicações retornadas aqui mostram campanhas de conscientização em prol do meio ambiente e dos animais. Também aparecem muitos termos referentes a alimentação, como: comida vegana, sorvete vegano e sushi vegano, todos retornando publicações com receitas de refeições que não usam insumos derivados de animais em suas preparações.
Examinando agora os termos retornados exclusivamente para os vegetarianos, observamos a recorrência dos termos virei vegetariana(o) e tornar vegetariana(o), que retornam publicações de pessoas expressando suas vontades de seguir o caminho do vegetarianismo ou que já se tornaram adeptos a essa restrição. Aparecem também termos como marmita, alimentação vegetariana, versão vegetariana e opção vegetariana que trouxeram publicações carregadas de receitas que não usam carne em suas composições.
Uma importante análise feita aqui é que termos como comer peixe ou comer frango são apresentados e, embora o vegetarianismo exclua todos os tipos de carne, há pessoas que abdicam de alguns tipos de carne e mesmo assim se intitulam vegetarianos. Duas marcas apareceram entre os termos: Burger King BR, com publicações de usuários que elogiam e ressaltam os lanches voltados para o público vegetariano em seus estabelecimentos e o McDonald’s com publicações de dúvidas e questionamentos sobre o lanche vegetariano ter sido retirado do cardápio.
Buscando os termos em comum aos dois movimentos que restringem carne em seu cotidiano, temos o termo Redes Sociais, que retornou majoritariamente canais do Youtube com receitas e dicas de alimentação tanto para veganos quanto para vegetarianos. Termos como saudável, sem glúten, hambúrguer vegetariano e pessoas trouxeram publicações sobre receitas para os dois grupos, focando nas experiências dos usuários com elas. O termo Brasil trouxe publicações que problematizam o preço da carne, relacionando este fato à diminuição do consumo do produto no país.
Considerações finais
Sabendo que cada vez mais pessoas estão adquirindo restrições alimentares, que o Brasil está em 4º lugar no ranking de consumo de alimentos saudáveis e que este é um novo nicho de mercado para quem está no meio alimentício, este estudo mostrou-se bastante importante.
Com os dados apresentados pudemos notar que as redes sociais estão permeadas de receitas para os mais variados tipos de restrições alimentares, e que muitas marcas usam deste tipo de abordagem para chegar em seus consumidores.
Percebemos também que de todas as restrições pesquisadas, a que mais tem expressão por aqui é a limitação à carne. E embora deixar de comer carne seja na maioria das vezes uma opção, um estilo de vida, tem ganhado cada vez mais adeptos e mais espaço em meio a tantas publicações.
Grandes marcas como Natura, Inoar, Boticário, Salon Line aparecem como grandes interlocutores com a comunidade de pessoas que desejam consumir produtos sem origem animal em sua composição e fabricação. Outras marcas como Castanharia, Micos Rosquinhas, Catupiry, Fareloboxe e Burger King também aparecem com opções de produtos para quem possui restrições alimentares.
Por ser um assunto cada vez mais presente em nosso cotidiano, acreditamos que o monitoramento através das redes sociais seja muito importante para entendermos o comportamento desta nova categoria de consumidores.