Antes mesmo de iniciar, as estimativas para o Carnaval 2019 já indicavam fortes expectativas, inclusive com quebra de recordes do evento.
Portanto, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, o feriado deveria render mais de R$6.78 bilhões ao país.
Por sua vez, a Secretaria de Aviação Civil também alertou para uma movimentação de mais de 6.8 milhões de passageiros nos principais aeroportos do país.
Além disso, o presidente da seccional baiana da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-BA) declarou expectativa de ocupação e reservas de 100% dos hotéis de Salvador – frente aos 97% registrados ano passado.
E foi isso que aconteceu!
Assim, mais de 4.5 milhões de pessoas participaram dos bloquinhos de rua do Rio de Janeiro (dados divulgados pelo Riotur).
Em São Paulo, o número de turistas que visitaram o Sambódromo do Anhembi para acompanhar os desfiles das escolas de samba cresceu 26,4% em relação à 2018.
Já em Salvador, as mais de 700 atrações nos circuitos oficiais trouxeram mais de 1 milhão de turistas para a capital baiana.
Em contrapartida, o número de mortes em estradas federais felizmente sofreu queda, com um volume 19% menor no Carnaval deste ano.
Depois da folia, difícil mesmo é dizer adeus a tudo isso e voltar à rotina.
Prova disso é uma pesquisa de satisfação realizada pelo Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife. Os dados obtidos destacaram que 97% dos entrevistados afirmaram voltar para Olinda nos próximos anos.
Além disso, se os números gerais do Carnaval foram de surpreender, em ambiente online o cenário não seria diferente.
DADOS GERAIS DO CARNAVAL 2019
Entre os dias 25/02/19 e 09/03/19, foram analisadas mais de 1.07 milhão de publicações com referências diretas ao Carnaval.
Assim, os mais de 790 mil usuários foram responsáveis por alcançar 1.4 bilhões de contas.
A rede social de maior destaque foi o Twitter com 28,9% das postagens. Em seguida, tivemos Facebook (26,2%) e Instagram (25,1%).
Em relação à geolocalização de posts, a região costeira do país foi a mais ativa. Então, Rio de Janeiro (33,85%), São Paulo (17,36%) e Minas Gerais (10,07%) indicam predominância do sudeste brasileiro. Enquanto, Rio Grande do Sul (8,31%) é o representante da região sul e Bahia (6,28%) e Pernambuco (5,18%), do nordeste.
CONVERSAS SOBRE O CARNAVAL 2019
BLOQUINHOS
A saber, os bloquinhos de rua em todo o país reforçaram mensagens de aceitação, respeito, diversão e espírito coletivo em histórias como:
- silêncio de um bloquinho conhecido por nunca parar, para ajudar uma criança perdida a se encontrar com a mãe
- vaquinha realizada por grupo de jovens para ajudar um catador de lixo que teve que trabalhar durante o feriado
- fã de 06 anos de Alceu Valença que encantou todos cantando apaixonadamente as músicas do cantor
- ajuda da cantora Ivete Sangalo à vendedora que teve o isopor furado durante confusão
Assim sendo, os blocos das cantoras Anitta e Claudia Leitte foram lembrados e citados com mais frequência em uma conversa homogênea e próxima.
O check-in de foliões nas redes sociais tornou o Instagram a rede social principal deste assunto.
O grandioso Galo da Madrugada, por sua vez, mostra-se mais distante dos termos relacionados à festa da região sudeste, indicando, assim, um correlação não tão forte dos eventos nas narrativas do público.
CIDADANIA
Neste aspecto, as conversas do público, de fato, foram cronologicamente acompanhando o status do evento.
Assim, partindo do pré-Carnaval até a quarta-feira de cinzas, os temas de interesse da sociedade evoluíram.
Desse modo, iniciaram com a conscientização do uso desrespeitoso de uma fantasia com máscara do ator Fábio Assunção.
Em seguida foram passando pela volta do glitter, semelhante ao ano passado, porém com um apelo mais sustentável e aparecimento do chamado glitter biodegradável. Assim também, houve discussões sobre respeito e liberdade, especialmente, ligados à aceitação do próprio corpo e da diversidade. Por fim, tivemos relatos referentes aos resquícios da festa para as cidades-sede, como acúmulo de lixo nas ruas e aplicação da Lei do Xixi.
MARCAS QUE ENTRARAM NA FOLIA
De acordo com o Ranking AAA de influência* da STILINGUE, marcas principais que se apropriaram do termo Carnaval para participar das conversas durante o período foram Lojas Americanas e Sam’s Club. Aliás, com elevada frequência de publicações que aproveitaram para divulgar produtos em promoção.
Igualmente, temos o Airbnb, que convidou internautas a procurarem destinos durante os quatro dias de festa. Também destaca-se a Antarctica, com uma cobertura dos blocos cariocas, convidando todos a beberem conscientemente e comemorando recorde de doações de sangue em campanha no Rio de Janeiro.
Por fim, atenção especial também para os destaques de Atratividade*, a Juripinga com vídeo ensinando um drink e Nestlé Ninho divulgando receita de torta para os pequenos foliões.
*metodologia proprietária da STILINGUE considera fatores como Alcance, Afinidade e Atratividade dos usuários.
ESCOLAS DE SAMBA RJ e SP
A saber, ss desfiles das escolas de samba de São Paulo e Rio de Janeiro, em 2019, se dividiram entre os dias 01 e 02 de março, e 03 e 04 de março, respectivamente.
O comparativo abaixo revela comportamentos diferentes do público em percepção aos dois eventos.
Assim, enquanto posts sobre São Paulo foram identificados nos dias do desfile e na apuração de resultados pontualmente, na cerimônia carioca, a conversação foi mais estável e contínua. Isto é, iniciando nos desfiles e se mantendo relevante e superior à de São Paulo até o anúncio da escola vencedora.
O engajamento com o anúncio das vitoriosas também foi superior no desfile carioca. Desta forma, obtive um número de interações totais 93% superior ao dos paulistas, como ilustrado nos gráficos abaixo.
Isso se deve, principalmente, ao apelo popular da temática abordada pela escola campeã Estação Primeira de Mangueira.
Com o enredo “História para ninar gente grande”, foram exaltados os líderes populares que influenciaram a história do Brasil, especialmente índios e negros. Além disso, a homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada em março de 2018, foi um dos momentos mais citados pelos internautas.
Para além dos envolvimento de perfis noticiosos como G1, EL PAÍS Brasil, BBC News Brasil, VIX Mulher e Folha de S.Paulo na divulgação destes conteúdos, somaram-se a atuação de políticos como Marcelo Freixo (PSOL-RJ) e David Miranda (PSOL-RJ).
Além do mais, em oposição às mensagens de parabenização encontradas acima, Carlos Bolsonaro foi responsável por questionar a índole do presidente da escola, acusando-o de envolvimento com “tráfico, bicheiros e milícias”.
POLÍTICA
Segundo assunto mais falado durante o Carnaval 2019!
Comentários políticos permearam diferentes níveis de hierarquia governamentais: da prefeitura até a presidência, sendo esta última a mais criticada.
Sendo assim, uma publicação realizada em 05/03 pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) no Twitter replicou um conteúdo pornográfico com alusão à festa:
“Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro”, criticou.
Com isso, tão rápido ocorreu, a imprensa nacional e internacional logo comunicaram e analisaram o ocorrido e muito se disse sobre “repercussão” da postagem no mundo todo e com outros chefes de estado. Desta forma, surgiram comentários de não alinhamento com o “cargo” do político com o posicionamento e “falta de decoro”.
Por fim, questionou-se sobre incapacidade do governo e pediu-se responsabilidade e compromisso com a honra do povo brasileiro.
Influenciadores digitais, políticos, jornalistas e perfis de humor aproveitaram-se da audiência e fizeram, em sua maioria, sátiras ressaltando outros momentos positivos do Carnaval ou criticando governo atual. Felipe Neto, Guilherme Boulos e Haddad Debochado foram alguns.
Enquanto isso, Marco Feliciano foi responsável por pautar outra vertente da discussão. Em resposta à cena do desfile da escola de samba Gaviões da Fiel (SP), o pastor criticou a vitória de Satanás contra Jesus e apresentou o mesmo discurso que o presidente: “Olha aí pra que serve o Carnaval…”, criticou. O assunto repercutiu, principalmente, em canais e perfis de cunho gospel.
CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE O CARNAVAL 2019
Considerado uma das festas mais populares do mundo, o Carnaval brasileiro nos últimos anos tem agregado cada vez mais um tom sócio-político ao espírito de diversão e comemoração.
Esse senso é encontrado desde eventos mais formais, como nos desfiles de escola de samba, até nos clássicos blocos de rua.
Desta forma, se a Estação Primeira de Mangueira aproveitou os 60 minutos de atenção para se posicionar e destacar os verdadeiros heróis da nação; foliões fizeram o mesmo ao optar por fantasias que demonstrassem sua opinião frente aos últimos acontecimentos político-econômicos do país.
Revelou-se, então, que no Carnaval 2019, a pauta política tomou frente das narrativas tornando-se o segundo tema mais citado pelos internautas (com mais de 70 mil menções) durante o período analisado, perdendo apenas para imagens e relatos relacionados à moda (mais de 82 mil citações a fantasias, maquiagens e preparativos para a festa).
O mesmo pode ser notado nas marcas anunciantes. Mais atentas às pautas sociais como combate ao machismo, racismo, homofobia, gordofobia e valorização do indivíduo e aceitação pessoal, pu seja, temáticas alvo de críticas nos carnavais passados.
Logo, as campanhas de 2019 tiveram, em geral, um comportamento mais introvertido, sem envolvimento em polêmicas.
A maior celebração brasileira chegou ao fim, depois de 04 dias de festas, batendo recordes, expectativas e deixando a indagação:
Quando começa o Carnaval 2020?